Campanha da Solidariedade

Domingo que vem será o domingo de Ramos. Último domingo da quaresma é também o domingo da Paixão, porque na liturgia da Palavra se proclama no Evangelho a narrativa da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Neste dia se encerra a Campanha da Fraternidade. Uma das expressões da fraternidade é tradicionalmente a esmola. Sinal de compaixão e solidariedade, a esmola pode facilmente se transformar em soberba para quem oferta e humilhação para quem recebe. O próprio Jesus alerta para isso no Evangelho e diz que a solução é fazer a doação em segredo.

Ao encerrar a Campanha a Igreja propõem uma coleta, onde as ofertas pessoais se juntam todas e se tornam oferta da comunidade, partilha de bens, sinal de comunhão. O dinheiro de todas as coletas deste dia é enviado para o Fundo Nacional de Solidariedade e para o Fundo Diocesano de Solidariedade, quarenta por cento para o primeiro e sessenta por cento para o segundo. Nossa Arquidiocese repassa dez por cento para a CNBB Regional ficando com a metade do que é arrecadado. Em que é gasto este dinheiro?  Administrado pela Cáritas Arquidiocesana ele ajuda a manter a sua estrutura que existe para responder às situações de emergência provocadas pelo clima, nas cheias e nos períodos de estiagem, como aquelas de origem política e econômica, como é o caso dos migrantes.

Também usamos este dinheiro para ajudar no trabalho das pastorais sociais. São elas a da Criança, da Pessoa Idosa, da Sobriedade, dos Indígenas, dos Migrantes, Carcerária, do Menor, a do Povo da Rua, Operária, DST AIDS. A coleta não consegue suprir a ação caritativa da Igreja, sobretudo em tempos de crise econômica. Seria muito difícil para as pastorais sociais, cujos integrantes são voluntários, subsistir sem esta ajuda. O Fundo Nacional distribui o dinheiro a projetos devidamente apresentados pelo bispo local, e analisados por um conselho gestor formado por bispos e leigos.

É bom lembrar os três níveis em que acontece a ação social da Igreja. O primeiro, o mais básico e em geral o que mais aparece é o da emergência. Quando alguém está com fome precisa comer, e isso vale para todas as necessidades básicas dos seres humanos, que além de comer, precisam de condições de higiene, vestuário digno, habitação, cuidados de saúde. Num segundo momento, é preciso empoderar as pessoas para que possam ser cidadão autônomos. Para tanto são organizados programas de formação profissional, economia solidária e alternativa. Um terceiro nível de atuação é o político, que não se reduz a política partidária, mas significa participar dos conselhos paritários de políticas públicas, implementar os estatutos da criança e do adolescente e da pessoa idosa, lutar por uma legislação que diminua as desigualdades sociais.

Num mundo cada vez mais egoísta, onde a solidariedade é mostrada como fraqueza, a campanha da solidariedade é uma forma de dizermos que os seguidores de Jesus são diferentes. Por isto me espantei com a campanha que se está fazendo para que as pessoas não colaborem e se recusem até a pegar o envelope que é distribuído nas Igrejas para que os fiéis coloquem a oferta. Mesmo que as acusações que fazem sejam verdadeiras, o mal que estão causando é imenso.

 

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 18.3.2018

 

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