Férias

A lei do sábado representou um dos grandes avanços da humanidade, e por isso mesmo ela é considerada divina e fundamental na relação da humanidade com Deus. Lei de homens livres que tem direito ao descanso, ela tem sua origem na própria atividade divina que após a criação descansou. O sábado vem colocar as coisas no seu devido lugar. Deus é Deus e o descanso é a ele dedicado. Necessário para refazer as forças e não permitir que a criatura se esgote, o tempo sabático é estendido também a terra cultivada e explorada pela intervenção humana. O descanso fecundo é também um ato de confiança na providência divina que continua a agir mesmo quando estamos ausentes. O cristianismo estendeu o descanso para o domingo, primeiro dia da semana porque foi neste dia que Jesus ressuscitou.

As nações modernas incorporaram a ideia do descanso semanal nas leis trabalhistas, sempre privilegiando o domingo. Tão importante como a parada semanal é o repouso anual garantido por um período de férias anuais que deve ser suficientemente longo para que o trabalhador refaça suas forças, não somente físicas, mas sobretudo as psíquicas e espirituais. A melhoria das condições de vida possibilitam a muitos fazer das férias um tempo de ruptura com o quotidiano viajando, trocando de ares e de costumes, conhecendo lugares bonitos e cheios de história. Infelizmente também neste ponto a nossa sociedade é desigual. A massa dos desempregados continua a fazer filas nas madrugadas a procura de trabalho e a viver de bicos esporádicos. Os subempregados se contentam em ver mais televisão. E os miseráveis que ainda estão excluídos da Lei, e para quem a vida é sempre igual e sempre cinzenta sem tempos coloridos com a gratuidade do tempo livre, estão aí, ao longo da história como desmancha prazeres dos bem-nascidos ou sucedidos.

Férias são um direito, mas não absoluto. Não se tira férias das responsabilidades que temos em relação aos familiares, amigos e pessoas que dependem de nós. Não se tira férias da vida de oração, dos valores que norteiam a nossa vida. Elas podem e devem ser ocasião de estreitamento desses laços quando o tempo livre possibilita encontros mais profundos. Aproveitar as férias para um encontro pessoal com o Senhor é sempre uma boa ideia. Participar de ações de voluntariado, de missões marcam a nossa vida sobretudo quando acontecem na adolescência e juventude. Hoje, quando vivemos tão distantes da natureza, as férias são um tempo bom para descobrir as belezas naturais, às vezes tão próximas de nós, mas tão distantes da nossa percepção. Assistir um bom filme, ler um bom livro, escutar uma boa música, são prazeres difíceis de se ter na correria em que a vida se transformou. Se estamos no grupo que pode fazer férias, façamos destas um tempo de graça, nos diversos sentidos que a graça tem. O primeiro é o de algo que não custa nada, é gratuito. Um outro é o da vida divina que nos é comunicada, é a graça de Deus. Mas o mais interessante é achar graça porque é engraçado, e rir de si mesmo, rir dos problemas, rir e fazer sorrir e assim recuperar a graça de viver. Felizes os que sabem rir e não são carrancudos, porque possuem a alegria de viver.

 

MATÉRIA DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 7.1.2018

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