Uma Fazenda chamada Esperança

Todos os anos a Fazenda da Esperança abre suas portas para receber amigos e familiares dos internos e celebrar o seu patrono São Francisco de Assis. Centenas de pessoas participam. As comunidades alugam ônibus e as famílias passam o dia no local. O ambiente é de confraternização, de gratidão pelas vidas salvas do flagelo da droga, mas sobretudo de esperança num mundo livre da dependência química. Sente-se também saudade dos que já partiram, vencidos, desta vida. As fazendas, agora espalhadas e presentes no mundo inteiro, tiveram seu início em Guaratinguetá, e são uma realização da parábola da semente de mostarda. A comunidade de Manaus tem acolhido gente do mundo inteiro e tem também enviado voluntários a outros países. Não conheço outras Fazendas, mas a nossa foi assumida pela igreja local como sua. São centenas de colaboradores que se empenham para dar suporte financeiro a obra. Fazem-no de forma anônima, mas neste dia a maioria gosta de participar.

A procura pela fazenda é grande e ela sozinha não consegue dar conta do problema. Ela é um sinal de como a tradição católica enfrenta os vícios, usando uma linguagem tradicional, porque é disto que se trata, sendo raras as vezes que se está diante de um distúrbio psíquico que deve ser tratado por médicos especializados. Ninguém pode ser responsabilizado por uma doença, mas por um vício sim. Então é claro que para deixar o vício é necessário entrar num processo de conversão, que começa com o reconhecimento dos pecados, da confissão dos mesmos, seguida do perdão e da absolvição. Ai tem início um caminho que é o milenar caminho da vida monástica, oração e trabalho. Refazer a vida interior pela meditação e oração e a biológica através de atividades físicas que sejam também construtivas. Tudo isto em comunidade criando laços de amizade e relações novas e sadias. Para nós que acreditamos, trata-se de refazer o corpo de Cristo ferido pelo pecado e edificar a Igreja com pedras agora renascidas.

O ambiente da festa é marcado pela alegria dos reencontros, pelo testemunho de quem está vencendo, mas sabe que precisa ficar alerta, e pela fé, porque todos sabem que aquilo tudo é obra de Deus. As quinze horas, a hora que Jesus morreu na cruz, começa a Eucaristia, o memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Nem o calor escaldante faz com que as pessoas arredem pé do local. Naquele momento o céu e a terra se tocam e a certeza da vitória do Cordeiro se mistura a ação de graças por tantas vidas resgatadas confirmando a esperança que não decepciona. A fazenda é obra de Deus, realizada por homens e mulheres que dão tudo de si pelo bem dos outros. Descobriram a verdadeira vida que está na entrega e no amor. Nos tempos difíceis que atravessamos a Fazenda surge como um farol na noite escura indicando caminhos e propondo valores, acendendo luzes ao invés de amaldiçoar as trevas. Oxalá se multipliquem experiências como a dela. O mundo será bem melhor, até o dia em que as Fazendas da Esperança não sejam mais necessárias. Um mundo de homens e mulheres livres para viver no Amor. Amor que é sempre Belo e Verdadeiro.

 

ARTIGO DE DOM SERGIO EDUARDO CASTRIANI – ARCEBISPO METROPOLITANO DE MANAUS

PUBLICADO NO JORNAL EM TEMPO

Data de Publicação: 24.9.2017

 

 

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