Centenas de pessoas que compareceram na tarde deste domingo (17/9), para participarem da IX Caminhada pela Paz Padre Rogério Ruvoletto, em homenagem ao padre italiano que foi assassinado em setembro de 2009. A caminhada teve como tema, “Por uma vida sem violência” e lema, “A justiça te esqueceu, mas jamais te esqueceremos”. A concentração foi realizada no terreno do cruzeiro, localizado na avenida 7 de Maio, bairro Santa Etelvina, de onde seguiu até a Igreja da Comunidade Santo Antônio, onde encerrou com uma emocionante missa solene.
Durante a caminhada de aproximadamente duas horas, com algumas paradas para momentos de reflexão, a comunidade relembrou o exemplo de vida e os trabalhos realizados pelo padre junto às cinco áreas missionárias que compõem o antigo setor 12, hoje chamado carinhosamente de setor Padre Ruggero Ruvoletto. A celebração foi presidida pelo padre Rubson Balieiro (Área Missionária Santa Helena) e concelebrada pelos padres Hugo Hernadez (Área Missionária Imaculado Coração de Maria – Amicom) e Josevaldo Machado (Área Missionária São João XXIII).
Por volta das 16h30, pe. Hugo fez a acolhida oficial e deu a benção inicial a todos, pe Rubson, que foi um grande amigo do pe. Rogério, também disse algumas palavras de boas-vindas. “Caminhar mostra que a igreja é peregrina e missionária, o mundo precisa de esperança por isso vamos caminhar como povo que acredita, como um povo que tem fé, um povo de Deus”, disse o padre. Um fato que era visível era a grande quantidade de jovens que se fizeram presente, pois mais da metade dos participantes era composta pela juventude.
E foram os próprios jovens da Pastoral da Juventude (PJ), da Área Missionária São João XXIII que fizeram o primeiro dos cinco momentos, com uma apresentação misturando música e dança, pedindo por justiça e paz. Após a performance, todos se colocaram em caminhada, agitando suas bandeiras, placas, cartazes, cantando, rezando e se manifestando de forma pacifica pelas ruas, com o apoio dos batedores da Polícia Militar e a equipe do Manaustrans presente do início ao fim do evento, dando suporte no trânsito para evitar qualquer transtorno com veículos e/ou pedestres.
A segunda parada foi em frente à feira do Santa Etelvina, com as crianças e adolescentes da Área Missionária Monte das Oliveiras, fazendo uma apresentação baseada na Campanha da Fraternidade 2017; a terceira parada, sob responsabilidade da Área Missionária Santa Helena, foi uma das mais emocionantes, realizada na casa onde o padre foi assassinado e todos puderam visitar o quarto onde aconteceu a tragédia, hoje em dia esse lugar é uma espécie de “minimuseu”, com algumas coisas que pertenceram ao padre, recortes de jornal e até um pequeno altar.
Depois a Amicom, trouxe a Ir. Eurides, da Rede Um grito pela Vida e Fórum das Mulheres, para falar um pouco sobre a Violência contra as mulheres, enquanto todos faziam um grande círculo bem na frente do 26º DIP. O fim da caminhada aconteceu no terminal de ônibus da Santa Etelvina, onde mais uma vez a atuação dos jovens caracterizados se fez marcante, apresentando uma peça teatral/musical falando a respeito de injustiça social, trazendo à tona problemas como desemprego, violência, entre outros.
“Essa caminhada foi para lembrar um padre que foi assassinado, mas a realidade que a gente vivia na época, era uma realidade de vários jovens que também foram mortos, então esse evento é uma forma de hoje darmos esse grito dentro da sociedade, mostrando nossas necessidades como: educação, lazer, saúde, segurança e outras situações voltadas às políticas públicas que hoje a gente não tem em nossa comunidade”, comentou Patrícia Cabral, vice-coordenadora do Setor pe. Ruggero.
Celebração participativa e emocionante
Após a caminhada, o destino de todos foi a Igreja da Comunidade de Santo Antônio, pertencente à Amicom, que se fez pequena para tantos leigos e religiosos que encheram todos os bancos para juntos encerrar com chave de ouro a celebração eucarística, marcada por vários momentos de pura emoção, como por exemplo o ofertório, quando junto com o pão e o vinho, também entraram a mochila, a toalha e a sandália do padre, que hoje em dia são verdadeiras relíquias, lembranças dos últimos objetos que usou em vida.
Em sua homilia, pe. Rubson, falou sobre o perdão dos pecados, salvação, sacrifício, conversão, batismo, além de salientar a importância da caminhada e falar a respeito da sua amizade com pe. Rogério. “Esse é o oitavo ano que fazemos essa memória pascal, tirando dela elementos de testemunho de espiritualidade para nossa vida de fé, porque um irmão derramou o sangue e nós de fato nos fizemos voz e vez das pessoas, por meio dos clamores, gritos, louvores. Conheci pe. Rogério e era uma pessoa muito amável e a coisa mais marcante que a gente guarda no coração, foi a causa pela qual ele deu a sua vida”, disse o padre a respeito do amigo.
Ao final da celebração, foi feita uma homenagem ao pe. Rogério com uma apresentação de um vídeo no telão da igreja, onde aparece ele falando sobre a sua missão e a caminhada na comunidade. O vídeo, gravado alguns meses antes da sua morte, pegou muitos de surpresa e arrancou lágrimas de alguns paroquianos. “A gente fica até emocionado ao falar de uma pessoa que transmitiu só coisas boas para as comunidades, para as famílias. Me senti muito bem de participar da caminhada junto com meus colegas e agora da missa, rezando para que a paz possa voltar a reinar”, disse Maria do Socorro, catequista da Área Missionária do Tarumã.
Breve histórico e origem da caminhada
Pe. Ruggero veio de Padova, nordeste da Itália, para o Brasil e chegou a Manaus vindo de Pesqueira (PE), que o enviou para o Amazonas para desenvolver um projeto chamado “Cristo Aponta para a Amazônia”. Chegou a atuar como padre durante um ano e oito meses, cuidando de todas as áreas missionárias que compõem o setor, até a manhã do dia 19 de setembro de 2009, quando foi assassinado em seu quarto, na casa padres, como até hoje é conhecida a residência.
Após três dias do ocorrido, a comunidade se reuniu e decidiu realizar esse ato em memória do padre, ao todo, cerca de 5 a 6 mil pessoas mobilizadas. A primeira manifestação pela paz ocorreu no sétimo dia do seu falecimento com o objetivo de também fazer um alerta pela vida e pela dignidade do ser humano e lutar pelo martírio do padre, esperando o reconhecimento do Vaticano. De lá para cá, todos os anos a comunidade se reúne, atraindo pessoas até mesmo de outros setores e chamando a atenção da imprensa clamando pela paz, segurança e menos violência.