Hoje vamos votar. Faço parte de uma geração que lutou e foi às ruas pelo direito de escolher de forma direta os seus governantes. Participei do movimento das diretas já e estive presente no grande comício do Anhangabaú. Tinha fome de voto. E ainda tenho. Quanto mais direta for, melhor será a democracia. Digo isto porque abomino toda forma de governo que não colabora para que todos, sem exceção sejam cidadãos. Mas desta vez voto por obrigação. Pela segunda vez uma eleição que eu participo dá em nada. Uma eleição municipal e agora uma estadual. É como uma brincadeira, um jogo que para quando o dono da bola quer. Fico me perguntando se e quando vai acontecer de novo. Os candidatos se apresentaram, foram eleitos, diplomados, tomaram posse e depois de tudo um colegiado de juízes eleitorais declara a nulidade do pleito e convoca novas eleições.
Como explicar a chegada deles ao poder? Os eleitores ao votar confiam na legitimidade das candidaturas. Os eleitos praticam atos de governo. Seriam estes atos revogados com a perda do mandato? Não duvido da capacidade técnica dos nossos magistrados, sei também que são homens e mulheres da mais alta responsabilidade. O problema talvez esteja no não respeitar prazos. Não gostaria, nem de longe pensar em vendas de liminares que permitem a um candidato ir avançando. O governador eleito no Amazonas recebeu quase um milhão de votos. Que respeito se tem por estes eleitores? Mesmo se alguns se vendem, a maioria age honestamente.
Um eleição custa caro. A informatização representou um grande avanço, mas tem seu preço. A questão da segurança exige a presença de tropas que precisam de meios para se locomover. De onde sai este dinheiro, necessário e que chega a casa dos milhões? Quem deixará de recebê-lo direta ou indiretamente sob forma de assistência à saúde, de mobilidade e de lazer? Algo está errado. Mas vamos votar. É melhor conviver com uma certa bagunça, mas com a liberdade, sem medo de dizer o que se pensa. Políticos são seres humanos que tem alegrias e tristezas, que tem uma família, sonhos e um nome a zelar. Lutemos com as armas da própria democracia para conservá-la. A primeira de suas arma é o voto secreto e único. Quando uma ditadura se instala, o direito ao voto livre, secreto e universal é o primeiro que se perde.
O nosso sistema democrático funciona com base na organização de partidos políticos. É urgente que pessoas honestas, comprometidas com o povo e avessas a qualquer tipo de corrupção se filiem aos partidos e se habilitem a concorrer a cargos no executivo e legislativo e que jovens seguidores de Jesus concorram aos postos do judiciário. A política tem sua lógica própria por que quer o poder. O que vai diferenciar o político cristão é como ele usa este poder e o que faz para conquistá-lo. Apesar de tudo, estamos crescendo em consciência e organização democrática. A eleição de hoje é mais um passo. Poderia ter tido um desfecho mais rápido. Mas vale a pena fazer um sacrifício para termos um governador eleito pelo povo. Oxalá o judiciário que nos garantiu este direito não mele o jogo. Seria muito triste.
ARTIGO DE D. SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 06.08.2017