Viver em Comunidade

Desde quinta-feira acontece na Paróquia São Jorge, no bairro de mesmo nome, em Manaus, o segundo encontro das Comunidades Eclesiais de Base dos Estados do Amazonas e Roraima. O primeiro aconteceu há dez anos. De lá para cá muita coisa mudou, mas as razões de ser das comunidades continuam as mesmas. A primeira convicção que anima os participantes é a de que a vida cristã e o seguimento de Jesus só acontecem numa comunidade concreta. A experiência confirma que, quando alguém tem um encontro autêntico com Jesus, ele automaticamente também encontra uma comunidade de fé. É esta comunidade que testificará a autenticidade do encontro.

A modernidade exacerbou o individualismo, levando a relatividade e ao subjetivismo. A comunidade faz o contraponto a estas tendências. A pós modernidade relativizou o próprio sujeito, dando-lhe uma liquidez desconcertante. A comunidade ajuda os indivíduos a serem eles mesmos. Não há nada melhor para a auto estima do que participar de uma delas. Talvez aí esteja uma das razões porque as comunidades estão mais vivas que nunca, mesmo em ambientes hostis à ideia de compromisso com os outros e do encontro com o diferente. Estar num lugar em que eu posso ser eu mesmo e ao mesmo tempo criar relações pessoais em profundidade faz bem.

Partilhar e ser solidário é ser humano, reconhecendo uma origem e uma natureza comuns. Ser fraterno e generoso corresponde ao que há de mais belo na divindade que se manifesta na criação. Gestos de carinho, compaixão e misericórdia são expressão do Amor que está no mais íntimo do nosso ser. As pessoas que participam de uma comunidade querem rezar e ela se torna um espaço de encontro com Deus e de escuta da sua Palavra na Liturgia e na Eucaristia. O encontro com a Palavra é o encontro com Cristo na força do Espírito. Espírito que é Amor e por isso mesmo ele é a alma das comunidades, formando-as e fazendo com que permaneçam fiéis ao projeto de Jesus, que é o Reino de Deus.

Elas não existem para si, mas para o mundo. Em primeiro lugar para que o mundo creia em Jesus vendo o seu testemunho de unidade, e em seguida que ele se transforme para que todos tenham vida, e vida em abundância. Uma comunidade fechada em si e nos próprios problemas é uma contradição. Por sua própria natureza e dinâmica elas são missionárias. Nos preocupa a evangelização das cidades, com suas periferias, seus edifícios, seus condomínios fechados. No ritmo de vida urbano parece não haver lugar para a igreja. O Espírito porém vai suscitando soluções. Se a mobilidade é um problema, o jeito e multiplicar lugares de encontro mais acessíveis. Se estamos em lugares violentos as reuniões tem que ser em horários razoáveis. Em lugares que o padre não pode entrar, os leigos devem assumir. A presença nos momentos de dor são fundamentais. Há um último aspecto das comunidades que impressiona. Elas são guardiãs da cultura popular. Procissões, arraiais, reza do terço mantém viva a fé mas também as raízes, tão necessárias para guardar a identidade. Hoje é dia de São Bento, fundador de comunidades monásticas. Hoje como no passado o cristianismo se renova e se reinventa na vida comum.

 

ARTIGO DE D. SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL:  AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 09.07.2017

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