Arte e Cultura

Falar em cultura é tocar no humano. Toda pessoa humana nasce e vive numa cultura da qual é construtor, devedor e produto. Às vezes exageramos e dizemos que tudo é cultural e não sobra espaço para a liberdade e a criatividade dos indivíduos. Em todo caso a evangelização deve transformar as culturas, porque se não o fizer dificilmente a vida cristã subsistirá. Por isso o tema da cultura ocupa um lugar importante de fundamental na missiologia, e nos documentos pontifícios sobre a Missão. Enviada a anunciar o Evangelho a todas as nações e em todos os tempos, a Igreja se encontra com inúmeras situações culturais e a forma como enfrenta este desafio marca a sua vida presente e futura. A história da Igreja está povoada, e não poderia ser diferente, de sucessos e fracassos. Todos conhecemos o encontro dramático entre o evangelho e as culturas indígenas a quinhentos anos atrás e que resultou na destruição quase que total destas últimas, muito embora o nosso catolicismo popular tenha muito de indígena. Poderia ter sido diferente? Pergunta difícil de responder.

O encontro das culturas se dá também na pastoral. O pluralismo cultural e a existência de subculturas representam um desafio constante para quem se preocupa com o futuro do rebanho que tantas vezes se encontra desorientado diante das propostas de valores e comportamentos que nem sempre correspondem a uma antropologia e a um ética cristã. O pastoreio exige um conhecimento da cultura atual na qual somos chamados a fazer a experiência cristã que reafirme a identidade do seguidor de Jesus. Depois é preciso um mínimo de conhecimento de como esta cultura se transmite com suas linguagens verbais e não verbais.

As artes são manifestações culturais que sempre foram utilizadas para transmitir a boa Nova de Jesus. Os vitrais das catedrais góticas, as telas renascentistas, a música barroca, os autos de natal, a dança, a música gospel, o teatro de Anchieta, são exemplos de utilização da arte. O belo e o verdadeiro se encontram, e para a obra divina deve-se fazer o melhor com o máximo de perfeição. Cultura clássica seria a expressão artística que supera o seu tempo. Todos devem ter acesso a ela, pois é um bem da humanidade. Todos deveriam ter acesso ao que é bonito e não só quem tem poder aquisitivo.

O artista evangelizador é um místico e um teólogo que expressa a sua fé em cores, em som e em palavras que conduzem ao mistério inefável, é um contemplativo que socializa a sua experiência. Como Igreja queremos estar atentos a este movimento do espirito que sopra onde quer e por isso mesmo exige atenção e discernimento. Animar os produtores de cultura a fazê-lo segundo o Evangelho, capacitar os que tem o dom da arte, tornar conhecidos os artistas católicos, eis algumas tarefas pastorais que se apresentam. Queremos ter uma arte católica, que seja ao mesmo tempo universal, expressando a fé da Igreja e a experiência humana de ser amado e de amar. Não é o caso de voltar a cristandade, mas sim a uma cultura cristã e católica que seja um caminho de civilização, a civilização do amor e do bem viver.

 

ARTIGO DE D. SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL:  AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 02.20.07.2017

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