“Não tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43,5). Comunicar esperança e confiança no nosso tempo. Eis o tema e o lema do 51º Dia Mundial das Comunicações que se celebra em toda a Igreja neste domingo da Ascenção do Senhor. O Concílio Vaticano II reconheceu a importância dos meios de comunicação social, dedicando-lhes um documento (Inter Mirifica – 1963). Quando Mc Luhan disse que o meio é a mensagem, expressou a realidade que mudava de acordo com as novas tecnologias. É preciso dominá-las se quisermos comunicar a Boa Nova que é sempre a mesma: Deus é Amor e em Jesus Cristo nós o encontramos.
Amor é comunicação e o Deus que se revelou ao longo da História da Salvação é compreendido e experimentado pelo Povo de Deus como Trindade, três pessoas que se comunicam, a ponto de formarem uma verdadeira Unidade, embora permanecendo totalmente independentes. A criação é a explosão do amor, e a criatura mais perfeita não podia deixar de ser imagem e semelhança do criador e por isso mesmo um ser que se realiza na comunicação consigo mesmo, com a natureza e com os outros. Deste mistério brotam as realidades humanas como a amizade, a sexualidade, o matrimônio, a família, a sociedade, a igreja. O primeiro meio de comunicação é o próprio corpo humano. Nada substitui a comunicação corporal, o toque, a voz, os gestos, a postura, os sorrisos, as lágrimas. A natureza também se comunica pela luz e pelo som. Extrair a luz e o som presentes na intimidade de minerais e vegetais, na rica biodiversidade dos diversos biomas é privilégio e missão de artistas. Quem sabe silenciar entra nesta dinâmica de comunicação que supera o espaço e o tempo. É a dinâmica do amor.
O cristianismo é uma religião missionária, e isto quer dizer que se vê depositário de uma verdade que deve ser anunciada até os confins da terra e até o final dos tempos. Esta pretensão de universalidade tem que ser bem entendida. Não pode ser imposta e deve brotar do diálogo que reconhece no interlocutor uma verdade que deve ser respeitada. Missão é também animação e um esforço para reavivar as experiências de fé. Comunicamos mais que verdades, queremos fazer algo mais que suscitar sentimentos e divertir. O objetivo maior dos nossos meios de comunicação é levar os nossos interlocutores a um encontro pessoal com Jesus Cristo na sua humanidade que assumida até as últimas consequência o fez redentor. Porque estamos convencidos disto e usamos todos os meios a nossa disposição com competência e profissionalismo. Este é o nosso foco. Há quem tenha outras intenções.
A concorrência neste campo é grande e pode nos amedrontar. Semear o pânico é uma forma de comunicação poderosa. A indústria da pornografia também se aproveita dos meios de comunicação para fazer fortuna desvirtuando os instintos naturais. Os escândalos que varrem a cena política pões às claras o quanto os meios de comunicação estão envolvidos. Devemos primar pela verdade mas sem perder a esperança. E a esperança é fonte de alegria. A verdadeira comunicação nos liga aos mistérios do amor e isto nos enche de confiança na capacidade se superação que possui a humanidade que sempre nos surpreende.
ARTIGO DE D. SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 28.05.2017