O terceiro domingo de maio, já há muitos anos é o dia internacional da Vigília pelos mortos de Aids e no convite que a Arquidiocese convoca a todos a participação no evento está escrito: “Vamos ajudar a construir um mundo sem Aids”. É importante fazer memória daqueles que partiram vitimados pela doença. No início o preconceito e a desinformação eram maiores e consequentemente o sofrimento. Hoje já se conhecem as causas, os mecanismos da infecção e embora não se tenha chegado a cura, o período de sobrevida pode ser longo e os portadores do vírus podem levar uma vida relativamente normal. Também os preconceitos parecem ter diminuído. No entanto, ela continua a matar e deve ser evitada. E a primeira forma de preveni-la é ter relações sexuais seguras.
Outro fator importante é o diagnóstico precoce. O portador do vírus ao tomar conhecimento poderá iniciar seu tratamento e evitar contaminar outros. Temos bons profissionais na área e várias organizações da sociedade civil, do Estado e da Igreja que dão apoio e trabalham na prevenção. Em Manaus a Igreja mantém duas casas, uma para pacientes que vem do interior e não tem onde ficar e outra como apoio aos portadores do vírus. São espaços de solidariedade que impressionam. A dor quando assumida na misericórdia transforma vidas e corações, mostrando a nossa verdade. O amor faz milagres e só no amor e com amor a realidade se transforma.
Lembrar os mortos, para salvar vidas. Proclamar a fé na ressurreição é dizer que as vidas ceifadas tiveram sentido e que foram inseridas no mistério da cruz. São tantas as doenças e a mortalidade é condição humana. A humanidade evolui e a expectativa de vida é cada vez maior. Mas há doenças que são como que paradigmas, como a tuberculose, a paralisia infantil e de maneira especial a hanseníase, que significava no passado exclusão e separação. Quanto sofrimento e quanta dor. A cura e o controle destas doenças vão muito além do fator físico. Significaram e significam quebra de tabus e preconceitos, reencontro da dignidade humana, superação da exclusão social. O aspecto religioso é importante. Primeiro para tirar qualquer ideia de doença como castigo de Deus. Depois para dar a força da fé que sempre é um fator importante na cura. Mas, antes de tudo experimentar a misericórdia divina que se expressa na solidariedade concreta de uma comunidade de fé.
A nossa vigília será uma missa. Missa é celebração do mistério pascal, isto é, da morte e da ressurreição do Senhor. Acreditamos que este sacrifício de Jesus é redentor, libertador e que fomos salvos da morte eterna. Que os nossos falecidos repousem em paz e que sua morte não tenha sido em vão. Que a sua lembrança nos faça defensores da vida e que o nosso comportamento seja coerente. A Aids é um problema de todos e cada um pode e deve fazer a sua parte. Assim como tudo que é humano, diz respeito a todos. Ela pode parecer uma realidade distante até o dia que bater a nossa porta. Ninguém escolhe doença mas podemos sim encará-las com o olhar da fé e da solidariedade. Rezar pelos falecidos nos fará mais compassivos e misericordiosos e mudará o nosso olhar e o nosso sentir.
ARTIGO DE D. SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 21.5.2017