Conversão

No desfile de indiciados pela justiça por crimes de corrupção ativa e passiva e nas denúncias de desvio de dinheiro em todos os âmbitos da Federação duas coisas tem me impressionado. A primeira é o volume de dinheiro, as somas astronômicas que a nós, mortais comuns fica difícil imaginar. A segunda é de quem se rouba: merenda escolar, medicamentos, material de construção em moradias populares. É difícil entender tanta perversidade da parte de pessoas que em muitos casos foram eleitas pelo voto popular. São conhecidos nossos, tem família, tem filhos, amigos. Muitos são religiosos, rezam, participam de movimentos sociais, tem discursos bonitos. Não são monstros e se parecem muito conosco.

E quem sabe também nós nos locupletamos na farra geral que virou a administração pública no Brasil. De onde veio o dinheiro da festinha que participei? E a oferta polpuda para obras sociais e igrejas, que origem tinham? Quantos favores recebidos são de origem duvidosa. A burocracia estatal e os órgãos de controle tão exigentes com creches, casas de apoio, asilos, sopões, não foram capazes de evitar a roubalheira, e pelo jeito não serão. Será que tem jeito? Jeito tem. Existem países que se não acabaram com a corrupção a reduziram a níveis ínfimos. O pior que pode acontecer é nos tornarmos uma sociedade amoral. Vale tudo para se dar bem. Os fins, ou melhor, o fim, que é acumular, justifica todos os meios. A riqueza tudo justifica e passa a ser sinal da benção divina. Não pode ser questionada.

Creio que devemos agir em vária frentes. A primeira é a conversão pessoal. Não posso mudar o mundo, mas posso começar por mim. Honestidade, verdade, justiça são valores e virtudes pessoais. Homens e mulheres renovados são a esperança da humanidade. Santidade pessoal, busca da vontade de Deus, capacidade e disposição para o sacrifício e a doação são caminhos de renovação. Sem pessoas convertidas e sem santos e santas não haverá saída para uma crise que é ética e moral. Depois é preciso que a lei funcione. Um judiciário lento e caro, torna o crime, que se chamava de colarinho branco, impune. Neste sentido as coisas parecem estar mudando. É necessário um arcabouço jurídico que iniba a corrupção e faça com que ela não compense. O Brasil tem jeito.

A maioria das pessoas tem palavra, é honesta, não está em busca de enriquecimento desmedido. O sonho da juventude é estudar, ter um emprego e constituir uma família. Às vezes é difícil saber que sociedade o Estado quer servir? Na Semana Santa tivemos grandes demonstrações de fé, que ao mesmo tempo são cultura. Pouquíssima ajuda receberam estas centenas de jovens envolvidos nestas manifestações. Os meios de comunicação, tão pródigos com artistas que vem a Manaus em busca de dinheiro, praticamente os ignoram. A grande massa é simplesmente ignorada, e só aparece nas páginas policiais. Não tenho a pretensão de esgotar o assunto. São de fato pensamentos soltos, mas partilho com meus leitores estas minhas perplexidades. É impossível que não tenhamos uma saída. Neste tempo pascal a força da ressurreição nos anima e nos enche de esperança.

ARTIGO DE D. SERGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 23.04.2017

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