Neste domingo tem início a Semana Santa. O seu ápice é o tríduo pascal, que começa com a cerimônia do lava pés e a memória da instituição do sacramento da Eucaristia, na quinta feira, passa pela celebração da morte do Senhor e pela vigília pascal tendo seu ponto alto no domingo de Páscoa. A semana se abre com a procissão dos ramos que lembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Ele entrou montado num jumento e foi aclamado pelos pobres que esperavam o Messias. Agitavam ramos de oliveira e colocavam seus panos no caminho do cortejo. Uma procissão de gente humilde que aos olhos dos poderosos poderia parecer ridícula, provocando risos. Os verdadeiros reis montam cavalos e são precedidos de batedores que mantem a multidão numa distância razoável e segura.
Mas este profeta galileu deixou as elites religiosas e políticas de Jerusalém apreensivas. Jesus incomodava e devia ser eliminado. Tramaram a sua morte, inventaram falsas acusações, arrumaram até um traidor. No final, a mesma multidão que o aclamara pediu a sua condenação, talvez ávida de espetáculo. Crucificações eram rituais macabros que serviam para amedrontar o povo e mostrar quem detinha o poder, mas também satisfaziam aos mais baixos instintos que veem no crime e na dor espetáculos e uma forma mórbida de passar o tempo e de diversão.
Este domingo é também chamado na liturgia de domingo da Paixão, porque nele se proclama a condenação, os sofrimentos e a morte do Senhor na cruz. A obediência do Cristo a vontade do Pai é cantada na aclamação ao Evangelho e a segunda leitura recorda o mistério da encarnação do Verbo, que o levou a renunciar a sua igualdade com Deus e assumir a condição humana até a morte e morte de cruz. A liturgia atualiza o mistério. O tempo presente se torna tempo de salvação. A cruz está presente na nossa vida pessoal e comunitária. Ela é condição humana, mas agravada pelo pecado. Entre os que estarão na procissão hoje, haverá desempregados, dependentes químicos, portadores de doenças degenerativas e incuráveis. Entre os ouvintes do Evangelho estarão pessoas traídas, machucadas pela ingratidão, preocupadas com o futuro, desesperançadas e deprimidas. Hoje como nação sentimos o gosto amargo da impotência histórica de vencermos um sistema opressor e de sermos vítimas de organizações criminosas que se apropriam do Estado.
Jesus carrega a cruz, solidariza-se e diz que se quisermos segui-lo também devemos carregar a nossa cruz de cada dia. Diz que não há outro caminho. A tentação é fugir da cruz procurando soluções mágicas e individualistas. Para enriquecer vale tudo e aí está a raiz da corrupção. Os personagens do drama da Paixão representam as diversas posturas que podemos ter diante do sofrimento. A multidão assiste e até se diverte com ele. Verônica dá um toque de solidariedade, que não resolve mas mostra que ainda resta um pouco de humanidade naquele momento de loucura. Os comentários revelam sentimentos profundos e posturas de vida. O drama da Paixão continuará até o final dos tempos, que já antecipamos na celebração da Páscoa, pois a vida vence a morte e a esperança é possível.