Olhai como crescem os lírios do campo. Estas duas frases do Evangelho foram proclamadas na abertura da Campanha da Fraternidade deste ano. O tema é: Biomas brasileiros e a defesa da vida. O local escolhido foi o Parque do Mindu para entrar em contato com a natureza que resiste ao processo de urbanização que não a respeitou e a degradou derrubando as árvores, poluindo os igarapés, destruindo a casa comum de tantos seres vivos. Entre eles os mais visíveis e audíveis são os pássaros do céu que necessitam tanto da terra. Eles não semeiam, nem colhem, nem guardam em celeiros. Não precisam fazer isto porque são um com a natureza. Simplesmente vivem. Estão inseridos na ordem natural das criaturas. Portanto é o Pai celeste que os alimenta.
Bem, os alimentava, até que o poder destrutivo da intervenção humana entrou em ação. O desejo de acrescentar dias à própria vida, o esforço para acumular para lucrar com o excedente quebrou a ordem divina e natural colocando em perigo a sobrevivência de muitas espécies e condenando várias à extinção. Não só o canto dos pássaros deixou de ser ouvido, e suas plumagens admiradas, mas a biodiversidade escondida em cada centímetro da floresta em grande parte desapareceu. Nos igarapés que cortavam o espaço onde agora está a cidade, os peixes também desapareceram, e o que se vê é o lixo e os dejetos entupindo tudo.
Mas ainda há tempo de salvar o bioma amazônico. Ele ainda é imenso e pode ser preservado. E possível a criatura humana integrar-se na natureza, reconhecendo que esta a antecede. Durante milênios povos inteiros viveram em harmonias com a floresta. E as populações ribeirinhas são prova disso. Para tanto é necessário uma conversão. Acreditar que Deus cuida de nós e que aquilo que ele criou é bom.
O Evangelho nos convida a olhar também para os lírios do campo em toda sua beleza. E eles não trabalham nem fiam. Seu crescimento é natural e eles simplesmente existem. Os seres humanos precisam se vestir e para fazê-lo montaram industrias e derrubaram florestas para produzir a matéria prima que alimentaria os teares. E com isto veio o lucro e algumas nações se tornaram poderosas. E assim o progresso sujou os mares, cavou crateras, aqueceu a terra. Tudo se tornou fonte de lucro e objeto de compra e venda. Veio a miséria, a escravidão e a fome. E perdemos a fé no criador e na capacidade da criação em gerar e sustentar a vida.
A Campanha da Fraternidade quer que vejamos nos biomas, dons de Deus que precisam ser respeitados e cuidados. Neles nós vivemos em busca de uma fraternidade que promova a vida e respeite as culturas. Antes de tudo devemos voltar a contemplar a beleza de cada bioma e de novo nos encantarmos com o canto dos pássaros, com a exuberância das flores, com a riqueza da biodiversidade. É necessário entender a relação da cidade em que vivemos com o bioma amazônico no qual ela se insere. Sonhamos ativamente com uma cidade integrada com a natureza e sustentável. Não percamos a esperança. Este mundo tem jeito porque é amado por Deus. E ao enviar seu Filho ao mundo se comprometeu com ele.
MATÉRIA DE D. SÉRGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação: 05.03.2017