Na liturgia deste domingo, a comunidade que se reúne para celebrar a Eucaristia recorda a narrativa da chegada dos Magos em Belém, onde adoraram o menino Jesus oferecendo simbolicamente ouro, incenso e mirra, reconhecendo assim a realeza, a divindade e a humanidade do recém-nascido posto numa manjedoura. Antes de chegar no presépio eles haviam procurado o rei para se orientar, uma vez que até ali tinham seguido uma estrela. Depois de terem prestado as devidas homenagens a Jesus, não voltaram mais ao palácio real tomando outro caminho. Fica claro que a boa notícia é que todas as nações são chamadas a se reconhecer em Jesus como um só povo. Paulo dirá que este é o mistério do Evangelho que deve ser anunciado com ousadia.
Nos séculos que se seguiram a morte e ressurreição de Jesus, geração após geração, missionários e missionárias tem ido até os confins da terra para anunciar o Evangelho e incorporar novos membros à Igreja, que é o corpo de Cristo. Cumprem a ordem dada pelo próprio Jesus. A fé que professamos é fruto desta longa tradição e espera-se que também a nossa geração seja missionária. Os caminhos da missão devem respeitar o outro. Neste sentido, o episódio de hoje é exemplar. Os magos encontram uma criança envolta em panos com sua mãe num abrigo de animais. Os reis estão nos palácios e os deuses nos templos, e por isso eles havia procurado o Messias em Jerusalém. Mas descobriram que Deus não age como os poderosos deste mundo. Por isso, voltaram para casa por outro caminho.
Hoje na Área Missionária Cidade de Deus, acontece a ordenação presbiteral de dois jovens capuchinhos. As áreas missionárias com suas comunidades, esta tem onze, são pela sua ação e vida verdadeiras manifestações da presença de Deus e da sua misericórdia. Elas evangelizam quando são espaço de fraternidade e de humanidade. Elas iluminam quando, em meio a um ambiente muitas vezes hostil, as pessoas encontram lugares de fraternidade e reconhecimento. Aí acontece uma verdadeira epifania, com Deus se revelando no meio dos pobres e humilhados. É preciso uma verdadeira conversão para deixar de pensar que a salvação virá dos poderosos.
Uma ordenação sacerdotal neste contexto popular deixa evidente que ser padre é ser ministro de um povo reconciliado em Jesus, e que o ministério sacerdotal é radicalmente comunitário e missionário. O padre é um homem de comunhão e está sempre em saída, disposto a ir às periferias existenciais e geográficas. Depois destas ordenações, terei imposto as mãos em vinte e dois homens, entre eles há um missionário na África e outro na Ásia, há aqueles que se ocupam da formação de outros padres ou seguem uma carreira acadêmica, outros estão gastando a sua vida junto às comunidades ribeirinhas da Amazônia. Mas todos são testemunhas da misericórdia divina que se manifestou plenamente em Jesus. Iluminados pela fé enxergamos a glória de Deus no mundo e na história. Como os magos reconhecemos na simplicidade e na pobreza a presença real e divina e oferecemos nossos presentes, e o melhor deles, com certeza, será o compromisso de viver a fraternidade, reconhecendo em cada ser humano um irmão.
ARTIGO DE D. SÉRGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 08.01.2017