Apesar da crise e da descrença no mundo político que toma conta do nosso país, aos poucos a cidade vai se enchendo de luz e de enfeites natalinos. Sem dúvida nenhuma este é um dos tempos mais bonitos do ano. A proximidade do Natal traz esperança e faz brotar sentimentos que remontam a infância que para muitos já está num passado distante que só a memória aguçada pelos sons natalinos alcança. A expectativa de ganhar presentes, a oportunidade de ter uma mesa farta, o encontro com familiares distantes, a missa da meia noite, são lembranças que enchem o coração de saudade, e os olhos de lágrimas. Mas a festa se renova e cada ano os rituais familiares continuam a fortalecer os laços que unem gerações e dão gosto a vida, às vezes tão sofrida.
O comércio aproveita-se e procura faturar em cima dos sentimentos e emoções, mas não consegue tirar o brilho próprio da solidariedade e da fraternidade que se estabelecem neste tempo. Para os cristãos há um fato histórico que justifica a esperança, o nascimento de Jesus em Belém no tempo em que Roma dominava a Palestina. Seus seguidores irão proclamar sua divindade escondida na sua humanidade. Nele, Deus veio ao mundo de maneira definitiva, numa eterna aliança de amor. Veio humildemente, deixando a humanidade plenamente livre para aceitá-lo ou não. Esta primeira vinda apesar de ser a plenitude dos tempos não representou o fim da história humana, embora aponte para o seu sentido. Aqueles que nele creem têm a vida eterna.
No tempo litúrgico do Advento nos preparamos para fazer memória deste mistério, o Verbo que se faz Carne e habita entre nós. Memória exigente porque nos desafia a sermos humanos, fraternos e solidários. Jesus assumiu a humanidade até o fim, o que o levou a morte e morte de cruz. Desde então seus discípulos esperam a sua volta, na certeza que ele voltará como Juiz. Esta volta misteriosa e definitiva tem sua hora escondida nos desígnios de Deus. Entre uma vinda e outra vivemos nós entre memória e expectativa, na fé e na esperança, encontrando Jesus que vem ao nosso encontro.
E ele nos encontra quando nos encontramos. Nos encontros pessoais temos a chance de encontrar o próprio Cristo que disse, tive fome e me deste de comer, sede e me destes de beber, era estrangeiro e me acolhestes. E ainda mais, tudo o que fizeres a um destes pequeninos é a mim que o fareis. Por isso, advento é um tempo bonito. Além de tudo é fim de ano e a perspectiva de um novo recomeçar nos enche de sonhos.
Jesus nasceu pobre no meio dos pobres. Se quisermos encontrá-lo temos que ir ao seu encontro. A forma como uma sociedade trata os seus pobres mostra o nível de civilização que atingiu. Precisaremos ainda de muitos adventos para que a nossa sociedade se torne mais justa e solidária e se realize o grande sonho do Natal, a Paz. Enquanto não a temos para todos, ao menos sonhemos com ela e não permitamos que nos roubem a esperança. Um dia a justiça triunfará, e toda maldade e prepotência desaparecerão. Com a Igreja de todos os tempos peçamos: Vem Senhor Jesus!
ARTIGO DE D. SÉRGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 27.11.2016