A arquidiocese

Depois de três anos e oito meses em Manaus, no domingo passado completei, com chave de ouro, o giro de visitas às paróquias e áreas missionárias da nossa arquidiocese, noventa e duas ao todo. Considero um privilégio conhecer esta porção do povo de Deus. A igreja é a obra prima do Espírito na história, porque é o corpo de Cristo, sua presença no mundo, sinal e sacramento da salvação. É a encarnação do verbo que se prolonga no edifício que tem como pedra fundamental o próprio Jesus. O serviço que me foi confiado me possibilita entrar na intimidade deste mistério.

Às vezes situações de conflito e limites pessoais que levam a comportamentos não compatíveis com a grandeza de nossa vocação cristã nos impedem ver a beleza da esposa de Cristo, a igreja. Sendo católica ela é universal e tem no bispo de Roma a expressão maior da comunhão e unidade, mas cada Igreja particular tem seu rosto e seu jeito de ser, fruto da sua história e da inculturação do evangelho. Uma multidão de semeadores e semeadoras faz com que a colheita seja abundante e incentive as novas gerações a continuar a semear. Ao encontrar as comunidades sempre tenho consciência de que colho onde outros semearam.

E como é gratificante testemunhar o fruto do trabalho de tantos homens e mulheres, discípulos e missioná- rios de Jesus que não mediram esforços para levar adiante a obra da evangelização. Vencida esta etapa de conhecimento algumas impressões e convicções se confirmam. Nossa igreja é uma igreja de comunidades. Paróquias e áreas missionárias com raríssimas exce- ções são redes de comunidades confirmando que ser cristão é ser comunitário. O encontro com Cristo é profundamente pessoal, mas radicalmente comunitário pois tem sua fonte na trindade que é um mistério de relações pessoais.

Essa realidade também é fruto de opções pastorais feitas pela igreja na Amazônia depois do concílio e da conferência de Medellín que deu origem ao famoso documento de Santarém, que muitos consideram a certidão de nascimento da igreja amazônica. Ultimamente, a CNBB aprovou um documento intitulado “Comunidade de comunidades”, uma nova paróquia que exprime e inspira o que vivemos em Manaus. Outra característica de nossa igreja que me impressiona é a piedade popular presente no culto e na devoção mariana e nas festas dos padroeiros. É difícil passar uma semana sem que eu participe de uma procissão em honra de um santo ou uma santa.

Novenários, por ocasião da festa, e novenas fazem parte da vida católica. As mais famosas sem nenhuma dúvida são as de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a de São José. Tenho testemunhado conversões e mudança de vida a partir destas devoções. Somos uma igreja ministerial, em que muitos assumem responsabilidades e serviços. A vocação laical é vivida na Igreja e na sociedade. Muitos cristãos católicos assumem a sua fé no exercício da cidadania e são sal e luz. Mas a experiência mais forte é a de ser acolhido, um acolhimento que transforma, que cura e que alimenta a esperança. Com Maria canto a ação de Deus tão visível e palpável na nossa querida arquidiocese de Manaus.

ARTIGO DE D. SÉRGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 23.10.2016

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