Rosário

 

Não há um símbolo mais católico que o rosário. Usado em carros para pedir a proteção da Virgem, carregado no pescoço como colar, nas mãos do falecido na hora do sepultamento, na cabeceira da cama, é sempre um sinal de fé. O terço, como é mais conhecido é a oração dos pobres. Para rezá-lo não se tem necessidade de livros, de lugares especiais, de roupas apropriadas, de ritos ou posturas complicadas. Ele pode ser rezado em procissões solenes, mas também na intimidade e até no leito quando o sono não vem. Está presente em ocasiões alegres e nos momentos difíceis quando a doença vem bater a nossa porta, ou a morte vem nos visitar. É rezado pelos Sumos Pontífices e pelas senhoras do Apostolado da Oração. Nos últimos anos surgiu o terço dos homens, um movimento que cresce a cada dia em quantidade e qualidade. Foi a reza do terço que alimentou a fé dos católicos em longos períodos de ausência de sacerdotes na Amazônia.

Qual seria o segredo desta devoção que atravessa os séculos? Muitas são as razões, inclusive antropológicas, pois orações litânicas são comuns em todas as grandes religiões. Até o dedilhar as contas do rosário pode ser um fator de relaxamento em momentos de tensão e isto explicaria como faz bem rezar o terço. No entanto, esta devoção tem um alto conteúdo bíblico e teológico. Nele rezamos repetidas vezes a oração que Jesus nos ensinou. O Pai Nosso além de ser uma oração de intercessão que coloca o intercessor inteiramente nas mãos de Deus é um programa de vida e uma visão da história que reconhece que tudo caminha para o reinado de Deus, que pedimos que não tarde. Ao pedir pão e perdão o orante reconhece que sem comida não se vive e sem reconciliação a morte impera. Rezar como Jesus rezou é assumir seu jeito de viver, pensar e agir. Não se pode rezar o Pai Nosso com sinceridade e não mudar de vida.

A repetição das Ave Marias é uma profissão de fé em Jesus. Izabel é a primeira pessoa a declarar Jesus como Senhor. Os apóstolos só fariam isso depois de Pentecostes. Embora seja uma oração mariana, o rosário é cristocêntrico a partir das duas orações que o compõem. Ainda mais quando é enriquecido pela contemplação dos mistérios da redenção. Os mistérios recordam os eventos salvíficos quando a graça entrando na história redimiu a humanidade. Não foi por acaso que nas aparições de Fátima, Nossa Senhora pede que se reze o terço.

Neste domingo, o segundo de outubro, uma multidão imensa acompanha a imagem da Virgem de Nazaré pelas ruas de Belém no Pará. No dia 12, o Brasil celebra a sua padroeira e a Igreja dará início a um ano mariano tendo em vista que no ano que vem será o terceiro centenário do encontro, nas águas, da imagem da Imaculada Conceição. A dimensão mariana da Igreja precede a petrina. O Espírito agiu em Maria muito antes de Pentecostes e mesmo então ela estava junto com os apóstolos. O catolicismo vive intensamente esta dimensão que não diminui em nada a centralidade de Cristo na obra da salvação, mas a torna mais bela e humana, uma beleza que só o feminino tem. Assim como a lua que reflete o sol, dá equilíbrio as marés, Nossa Senhora refletindo Jesus nos traz paz e tranquilidade nas tormentas da caminhada.

 

 

ARTIGO DE D. SÉRGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 9.10.2016

 

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