Vamos às urnas

Mais uma vez vamos participar de eleições, desta vez municipais. A Justiça Eleitoral dará de novo um show de competência e agilidade. No mesmo dia saberemos o resultado do pleito e eleitos e eleitas poderão comemorar. Desta vez já teremos a biometria funcionando em grande parte das zonas eleitorais. Embora questionado o sistema parece seguro e confiável.

Uma coisa no entanto me preocupa. Será que o vencedor vai realmente governar até o final do seu mandato? Nada a ver com o impedimento da presidente da república. O fato é que muitas candidaturas são impugnadas depois que os vencedores tomaram posse. As razões são muitas e todas perfeitamente legítimas. As decisões da justiça eleitoral também são tomadas respeitando a lei, garantindo o direito de defesa e seguindo todos os ritos processuais. Depois de meses de mandato se descobre que a eleição não valeu e assumirá o segundo colocado e conforme o caso se farão novas eleições. Vivi isto nas últimas eleições na cidade em que morava e agora podemos viver esta situação no Estado do Amazonas. O sentimento de frustração é grande. Por que a Justiça permitiu que aquela candidatura progredisse? Não se deveria respeitar prazos? Os julgamentos não deveriam ter maior celeridade? Quem se responsabiliza pelos transtornos que estas trocas de comando produzem? Tenho certeza que o Poder Judiciário encontrará uma solução porque juízes também são cidadãos e acredito que são sensíveis às consequências de suas decisões.

Estas eleições se revestem de uma importância ímpar. Em primeiro lugar porque é no município que vivemos. A cidade é nossa casa. Saneamento básico, educação fundamental, atendimento de emergência na saúde, transporte coletivo dentro da mobilidade mais ampla, e muitas outras coisas básicas, são responsabilidades do poder municipal. Só isto bastaria para realçar a importância deste momento. Mas estas eleições acontecem quando o país descobre um esquema de corrupção que ninguém imaginava poder existir. Partidos políticos estão sob suspeita. Como esta situação vai marcar os resultados deste pleito?

Vivemos uma crise econômica que penaliza os pobres. A sensação que se tem é que o caminho escolhido para sair da crise passa pela perda de direitos, alguns conquistados na constituinte. A emergência dos evangélicos também assusta. Nada contra os evangélicos participarem da política e do poder. Somos todos cidadãos e a fé deve ser vivida também na política. O que preocupa é um projeto político excludente e que não leva em conta o bem comum, mas visa o crescimento dos grupos religiosos e a destruição do catolicismo neste país.

Com todas as contradições e ambiguidades, a democracia ainda é o melhor sistema. Deve ser sempre aprimorado para que a representatividade seja respeitada e real, e que a maioria governe, garantindo o direito das minorias de fazer oposição. Gosto muito do aspecto festivo deste dia. É uma grande festa, que possibilita reencontros e na qual todos somos iguais e importantes. Não existem eleitores privilegiados. Cada voto vale o mesmo que todos os votos. Portanto, vamos às urnas!

MATÉRIA DE D. SÉRGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: EM TEMPO
Data de Publicação: 2.10.2016

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