Debate Democrático

Na última terça feira a Caritas Arquidiocesana, em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil, promoveu um debate entre os candidatos a prefeito de Manaus. O formato do evento elaborado com muito cuidado pelos organizadores quis possibilitar que as lideranças das comunidades católicas se inteirassem das propostas de governo das diferentes candidaturas. A primeira impressão que ficou é que os discursos foram de alto nível. Os que vieram demonstraram articulação e reflexão séria para enfrentar os desafios da grande metrópole amazônica, nos aspectos urbanos e rurais, bem como na sua diversidade cultural e étnica.

A presença de lideranças indígenas com suas famílias e crianças foi um dos aspectos positivos e inovadores do diálogo que se estabeleceu. A questões levantadas haviam sido formuladas nos grupos de base e iam desde a educação até a mobilidade humana, passando pelas políticas públicas de saúde e de atenção à criança, aos adolescentes e à juventude. Juventude que esteve presente e que se manifestou com uma performance contra um dos candidatos acusando-o de golpista. Destoaram um pouco do ambiente e rapidamente contidos pelos homens do terço deixaram o local. Haviam no entanto dado o seu recado. Democracia é um processo demorado e difícil que exige regras e respeito pelo outro que deve poder manifestar a sua opinião. No final houve um segundo episódio constrangedor quando alguém insistia em falar fora do esquema estabelecido.

Ficou no ar a pergunta sobre a ausência de quatro concorrentes a prefeitura. Será que consideraram que o público era irrelevante? Afinal das contas ali estavam pessoas de toda a cidade, participantes de comunidades, pastorais e movimentos da Igreja católica, de todas as idades. Os meios de comunicação católicos estavam transmitindo o debate e eles chegam sobretudo nas localidades mais distantes do nosso interior. Uma outra hipótese é a de que candidatos à frente nas pesquisas não precisam e nem devem se expor ao confronto de ideias e propostas. Lamentamos a ausência dos que não vieram, e destacamos a nossa gratidão por aqueles que aceitaram participar num diálogo tão importante e fundamental.

A primeira questão tratava exatamente de orçamento participativo, que supõem a disposição do governante em ouvir e prestar contas. O dia do debate foi marcado pela operação da polícia federal denominada de Maus Caminhos, que desnudou a prática da terceirização quando o Estado transfere suas funções a organizações sociais, tudo a peso de ouro. Se houvesse maior clareza e participação da sociedade civil, estas situações poderiam ser evitadas. Justamente na área da saúde onde a população experimenta descaso e humilhação, esquemas de fraude e corrupção são montados e subsistem apesar de toda a burocracia que se mostra ineficiente no controle de desvios criminosos.

 

No próximo domingo vamos às urnas. Respeitaremos os resultados. O mínimo que se espera dos eleitos é que sejam coerentes com suas campanhas. Assim daremos mais um passo na construção de uma sociedade mais justa e fraterna, onde o diálogo seja possível, e toda prepotência tenha fim.

MATÉRIA DE D. SÉRGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação:  25.9.2016

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