Grito dos Excluídos reúne centenas de manifestantes que pedem por assistência à saúde e justiça social

O prédio da Santa Casa de Misericórdia, situado na rua 10 de Julho – Centro, foi o local escolhido na tarde da última quarta-feira (7/9), dia em que se comemora a independência do Brasil, para fazer a concentração de centenas de pessoas que participaram do 22. Grito dos Excluídos, evento organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que, neste ano, teve como tema “A vida em primeiro lugar” e lema “Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata!”, contou com a participação das paróquias, áreas missionárias, congregações religiosas, seminaristas, leigos, movimentos sociais, estudantis e indígenas que se uniram com um objetivo comum: reivindicar seus direitos e lutar contra a desigualdade social.

E foi assim, juntos, que cerca de aproximadamente 600 pessoas iniciaram a caminhada com apitos, bandeiras, cartazes fazendo seu manifesto pacífico pelas ruas da capital amazonense até chegar à praça Ismael Benigno, em frente à Paróquia de São Raimundo, setor Avenida Brasil. O trajeto foi divido em quatro paradas, denominadas de eixos, onde em cada uma, era abordado um tema específico: saúde, saneamento básico, moradia, e violência contra crianças e adolescestes.

Apesar dos temas discutido nos eixos, todos as demais reivindicações tiveram sua voz e vez, num espaço aberto para quem quisesse dar o seu grito. Para o Tuxaua Pedro Ramal, cerca de 10 etnias participaram do evento para aproveitar a oportunidade de fazer suas manifestações contra o sistema. “Nós viemos de ônibus trazendo representantes Saterê-Maué, Ticuna, Cokama, Kambeba, Murá, Apurinã, Tucano, Dessano, Tuiuca, incluindo crianças e adultos, que todo ano participam para reivindicar pelas nossas terras, pela nossa cultura, pela nossa escola diferenciada e por tudo que temos direito”, disse o líder da aldeia indígena Anambé, no Tarumá-Açu.

Para Lourenço Gondim, membro da Rede de Assessores e Cuidadores da Juventude (RACJ), um evento como esse, assim como a Campanha da Fraternidade (CF), é uma forma da Igreja Católica levar as grandes questões sociais para serem debatidas. “A Igreja sempre teve um carinho especial pela doutrina social, um movimento como esse cumpre um papel importante na sociedade, que é de estar dando oportunidade discutir abertamente os grandes problemas que estão afligindo a população. É uma forma dos governantes estarem atentos a esses gritos e que possam responder a esses clamores de toda a sociedade”, afirmou Lourenço.

De acordo com a socióloga Sandra Damasceno, membro da Caritas Arquidiocesana e militante do Mulheres Unidas de Atitudes Saudáveis (Musas), o Grito sempre apresenta um tema social de grande relevância e que mostra para sociedade que a Igreja também se importa com aquilo que é contrário à vida. “Vários movimentos sociais que hoje existem nasceram na igreja, por que faz parte da Igreja também ter essa visão crítica, pois na metodologia do Ver, Julgar e Agir, o Grito é o AGIR, é a ação da Igreja que mostra que o reino de Deus é construído aqui na terra, para todos e que ninguém deve ficar excluído por causa da sua classe social, cor ou etnia”, disse Sandra.

A opinião dos religiosos

O arcebispo de Manaus Dom Sérgio Castriani acredita que estas iniciativas dão voz aos que se sentem lesados pela má condução política e econômica e precisam externar a sua indignação e mostrar que existem e precisam de ações que garantam sua dignidade. “Como o tema diz, gritamos que queremos a vida em primeiro lugar. É importante que o governo, o estado, a nação leve sempre em conta a vida do povo, sabendo que suas decisões podem implicar em morte e exclusão. A economia e a política são importantes, mas estamos num jogo de poder que não leva em conta a população real, os pobres e os pequenos, gerando sérias consequências para a população. Os políticos precisam saber que tudo tem consequência na vida do povo. O Grito é isso, é mostrar que existimos e precisamos ser levados em consideração. É importante participar dessas iniciativas, pois muitas vezes a gente se omite. Nós não somos contra, somos sim a favor da vida e a favor do povo. Queremos que o sistema político, aqueles que tem o poder, legal e legítimo, lembrem-se dos pobres e dos pequenos”, destacou Dom Sérgio.

Para o padre Marco Antônio este foi um momento de gritar por justiça e fraternidade. “O grito dos excluídos é um grito contra a fome e a miséria, contra todo tipo e poder que destrói a vida. A Igreja Católica, ao lado das Pastorais Sociais e dos movimentos sociais, sempre lutou em favor da vida, porque é o grito de Jesus na Cruz, como diz João no capítulo 10 / versículo 10: Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância. Nós estamos aqui hoje para gritar por uma sociedade mais justa e mais fraterna, para que todo nosso povo tenha condições de vida digna, uma boa educação e uma boa saúde”, afirmou o padre que é pároco na Paróquia São Vicente de Paulo, no bairro Compensa.

Pe. Orlando Gonçalves, vice-presidente da Cáritas Arquidiocesana, ao final do evento afirmou que se conseguiu atingir a meta de mobilizar pessoas para manifestar sua indignação e exigir direitos. “A mobilização que as pastorais sociais e movimentos organizaram atingiram o seu objetivo. A meta que seria de 500 pessoas participando, porém nós sentimos que tivemos mais de mil pessoas. Vieram participar pessoas ligadas às comunidades e povos tradicionais em situações de vulnerabilidade e, sobretudo, excluídas de seus direitos. Vieram de suas comunidades para falar que estão procurando seus direitos e buscando uma sociedade mais igual para todos”, concluiu.

Por Érico Pena / Ana Paula Lourenço – Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Manaus

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