Santa Cruz

No dia catorze de setembro a Igreja faz a memória da Exaltação da Santa Cruz. Neste ano, em Manaus a festa foi maior e mais solene porque a Paróquia Santa Cruz completava quarenta anos e coincidentemente estavam reunidos em Manaus os bispos da Amazônia Ocidental que fazem parte do regional Norte I da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Junto com a paróquia celebraram o Jubileu da Misericórdia.

A Cruz é a manifestação maior da misericórdia de Deus que amou tanto o mundo que enviou o seu Filho para salvá-lo. O mundo é obra do amor de Deus. A criação foi um ato de amor. A casa comum, a Terra, o Universo e tudo que ele contém são fruto do amor, e a criatura humana, imagem e semelhança do criador foi colocada como guardiã deste jardim maravilhoso. Degenerada pelo pecado a criação não foi abandonada pelo criador, mas maravilhosamente o criador se torna criatura e se esvaziando de sua dignidade entra na história humana e vai até o fim nesta loucura de amor, até a cruz.

A Cruz é a consequência da encarnação, é o amor levado até o fim, até as últimas consequências. Na Cruz, ou melhor dizendo, na crucificação Deus se revela. Na elevação do Filho da terra manifesta-se a glória de Deus. Glória que é a realização do amor misericordioso, eterno e sem limites. Amor que rompe todas as barreiras e esquemas deixando atônitos os que tiveram o privilégio de contemplá-lo e experimentá-lo. A cruz é perdão, reconciliação e misericórdia. Quem foi perdoado sabe o que isto significa. Quem um dia pode refazer sua vida nascendo de novo conhece o mistério restaurador da Cruz profeticamente sinalizado na serpente de bronze que Moisés levantou no deserto para que aqueles que olhassem para ela fossem curados.

Só Deus pode restaurar a criação ferida de morte pelo pecado e esta restauração passa pela cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o crucificado, que se esvaziando de sua divindade mostrou um caminho, o caminho da solidariedade. No ano jubilar ao invocar a misericórdia divina e implorar o perdão, o Evangelho nos mostra um caminho que é a participação no amor daquele que assumiu nossas dores e carregou sobre os ombros o peso da nossa maldade. Somos todos caminhantes e participamos do mesmo destino. Assumir a dor da humanidade como nossa e agindo a partir desta comunhão profunda é o desafio do seguimento de Jesus.

O crucificado nos desinstala e nos incomoda porque continua a ser condenado a morte prematura, violenta, sem sentido. A vida humana continua a ser banalizada, comercializada, destruída. Só a solidariedade com os crucificados terá força de transformação e trará vida nova para o mundo. Celebrar a Santa Cruz é reafirmar nosso compromisso eclesial de estar junto aos deserdados e excluídos, aos pequenos e aos pobres, aos sofredores e aos esquecidos, aos doentes e aos privados de liberdade, acolhendo os estrangeiros, partilhando com quem não tem comida suficiente. Uma Igreja que não vive o mistério da Cruz não é Igreja de Jesus. A única glória a ser procurada é a da Cruz onde nos salvou Jesus, e que exaltado da terra atrai para si todas as coisas.

MATÉRIA DE D. SÉRGIO EDUARDO CASTRIANI – Arcebispo Metropolitano de Manaus
JORNAL: AMAZONAS EM TEMPO
Data de Publicação:  18.09.2016

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